sábado, 26 de maio de 2012

" A máquina do lúdico"


por Rogério Sanches Revelles.
“A máquina do lúdico” é um departamento em constante evolução, assim como outros que possuo dentro do meu “ser profissional”.
Em um passado já relativamente distante, “A máquina do lúdico” era um departamento meio acanhado e quase com vergonha de aparecer para o mundo. Ela surgiu de forma amadora, na minha infância, quando, como qualquer outra criança de minha época, criava entre tantas outras coisas, amigos imaginários, carrinhos com caixas de sapato ou ainda soldadinhos de papelão, principalmente naqueles dias de chuva, que toda criança detesta, pois não era possível brincar na rua ou no quintal.
Mais tarde, já funcionário do banco HSBC, no setor de RH, os integrantes internos da minha mente na “máquina do lúdico” voltaram a operar... e dessa vez produzindo coisas diferentes das antigas criações que se limitavam a soldadinhos, carrinhos ou joguinhos de futebol de botão com recortes da revista Placar.
Esse departamento interno do meu ser, que intitulei de “máquina do lúdico” não resiste em todas as pessoas em sua fase de juventude ou mesmo na fase adulta. Ele é sufocado por inúmeras razões e circunstâncias. Mais tarde, de forma mais acadêmica, descobri que entre tantos nomes, essa forma lúdica de incrementar o aprendizado é chamada ou reconhecida de várias outras formas: fixadores de conteúdo, andragogia (Malcolm Knowles, na década de 1970) ou mesmo os canais visuais ou cinestésicos da programação Neurolinguistica.
Voltando aos primórdios da emancipação da minha “máquina do lúdico” no seu âmbito profissional, houve uma espécie de “inconfidência interna” (pois apesar do apelo interno da minha vontade, que insistia em brotar esse lado criativo no exercício profissional, haviam os cuidados da chamada “polícia do meu pensamento” que sempre recomendava fazer as coisas na sua forma convencional e aceitável, igual ao que quase todo mundo faz)

Quando conheci o Walter, percebi que ele também possuía esse departamento.
O departamento de “máquina do lúdico” do Walter era emancipado, assumido, desenvolvido e principalmente, já era reconhecido profissionalmente, conforme a narrativa do próprio em postagem anterior, quando ele usava bonecos em suas atuações com treinamentos de seguros de vida. Outro profissional que me ajudou a ver essa possibilidade como um coisa natural, concreta e perfeitamente possível, foi o Prof. Geraldo Ramalho de Medeiros, da consultoria Videre de Porto Alegre. Esse educador empresarial fazia muito sucesso no final dos anos 90, graças ao trabalho desenvolvido na caixa econômica. Assim, o HSBC pagou pra ver, enviando Walter, Rose Lazzarini e eu, para assisti-lo em um hotel de Porto Alegre nos idos de 1998. Entre todos os superlativos para descrevê-lo em seu trabalho vou usar somente o fantásticamente “criativo”. Foi o primeiro treinamento que assisti em minha vida sem o uso de nenhuma apostila.
Isso me encorajou e finalmente a “inconfidência interna” foi vencida pelos neurônios da minha liberdade. Assim, comecei a fazer minhas primeiras associações de aprendizado, quando desenvolvemos juntos, dentro do banco, nosso primeiro projeto chamado de “Sensibilização para Vendas” ( 1998 ).

* foto do acervo pessoal de Walter Brum Monteiro, mostra colaboradores do HSBC jogando o game "Gerente Detetive" o primeiro jogo que criei dentro do Treinamento "Habilidades para Vendas" que confeccionei para servir como padrão para a organização, no Centro de Treinamento HSBC no ano de 2000 e 2001.
Lembro que, tanto dentro do banco, como depois em outras organizações por onde passei, nem sempre tive sucesso com essa prática. Aprendi a duras custas, que esses recursos devem ser um complemento de algo que tem corpo e profundidade.
O lúdico deve ser um meio e não a finalidade principal. Ele não se sustenta sozinho e não faz milagres !
Um livro que me ajudou bastante na liberação da capacidade de criar pensando na forma como as pessoas trabalham e se comportam hoje nas organizações, foi "Ócio criativo" do autor Domenico de Masi. Ainda somos vítimas das filosofias do período Industrial !

Depois, com o passar dos anos, desenvolvi outras formas dentro do meu departamento de “máquina do lúdico”. Comecei a incrementar uma confecção mais apurada de games corporativos de diversos assuntos, formas e conteúdos, como também minhas apresentações em PowerPoint ( reconhecidas principalmente pela originalidade ) graças ao trabalho desenvolvido junto a outras consultorias do segmento. Abaixo, alguns exemplos recentes:


* Catálogo que desenvolvi para divulgar meu trabalho junto aos clientes da Prisma Consultoria em Saúde em agosto de 2011.

* Capa da palestra que desenvolvi e apliquei, sobre o tema "Universidade Corporativa" pela Prisma Consultoria em Dezembro 2011.

Capa do treinamento desenvolvido e posteriormente comercializado para uma consutoria do segmento, em São Paulo, no mês de Fevereiro de 2012.
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No ano de 2008, uma importante seguradora, me convidou para multiplicar e ensinar o "passo a passo" dessa minha "capacidade" de fazer apresentações de Power Point diferenciadas, que fazia um grande sucesso já naquele tempo. O convite foi mais ou menos assim:
- O que você acha de passar esse teu jeito de preparar apresentações no computador para o nosso departamento X.... ?
O grupo de colaboradores a ser preparado, em razão da atividade e do tipo de trabalho que desempenhavam, também elaboravam constantes apresentações em PowerPoint. Confesso que fiquei preocupado. Sei que multiplicar essa habilidade não é simples... não é uma ciência exata ! 
Depois de muito pensar, aceitei o convite e optei por uma oficina de trabalho. O objetivo era, primeiramente, saber como eles montavam suas apresentações e aos poucos, usando as próprias apresentações que eles criariam em sala, mostrar como eu mesmo faria... que tipos de programa eu usava... onde buscava fotos... como alterava ou incrementava essas fotos e onde buscava sugestões para isso e etc..
A primeira notícia ruim é que dividiram o curso em quatro noites com 3 horas, começando as atividades as 19 hs. No final do primeiro dia, eu já havia percebido que as pessoas buscavam uma fórmula pronta (o que não existe). Isso não era uma aula para aprender a operar os programas do Windows. A rigor, era uma oficina de trabalho ( as pessoas teriam que trabalhar para ter o peixe ) um investimento para desenvolver habilidades diferenciadas.
Porém, em uma época onde tudo se encontra no google, as pessoas não querem mais ir na biblioteca e copiar as coisas no papel... dá pra entender né ?

Um participante chegou a me dizer:
- Puxa, perdemos tempo montando nossas apresentações. Por que você já não passa logo o que é para fazer ?
Depois do curso, que evidentemente, não poderia ter sido bem avaliado, cheguei à conclusão que não deveria ter aceitado essa espécie de convite. Mais uma vivência na minha lapidação como profissional.
Há coisas que são únicas e particulares. É por isso que nem toda oficina de funilaria de automóveis tem o mesmo "martelinho de ouro"
Consultores não são divindades. Também precisam da participação, da entrega e da confiança daqueles que os procuram.
Guardadas as proporções, imaginei o Sr.Miyagi, da série Karate Kid, tentando ensinar tudo que sabia, ao Daniel Larusso, em quatro noites com períodos de 3 horas. Lembrei também que, em um dos filmes da série, o Daniel Larusso disse:
- Eu não vou pintar cercas e muito menos encerar seus carros... Quero aprender Karate !


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Como disse Paulo Coelho:
Um velho ditado mágico: quando o discípulo está pronto, o mestre aparece ! Pensando nisto, muitas pessoas passam a vida inteira se preparando para tal encontro. Quando cruzam com o mestre, se entregam completamente – por dias, meses, ou anos. Mas terminam descobrindo que o mestre não é o ser perfeito que imaginaram – mas um homem igual a todos, cuja única função é dividir aquilo que aprendeu. Ao ver-se diante de uma pessoa com seus defeitos próprios, o discípulo sente-se roubado. Vem o desespero e o desejo de abandonar a busca...

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