sábado, 26 de maio de 2012

" A máquina do lúdico"


por Rogério Sanches Revelles.
“A máquina do lúdico” é um departamento em constante evolução, assim como outros que possuo dentro do meu “ser profissional”.
Em um passado já relativamente distante, “A máquina do lúdico” era um departamento meio acanhado e quase com vergonha de aparecer para o mundo. Ela surgiu de forma amadora, na minha infância, quando, como qualquer outra criança de minha época, criava entre tantas outras coisas, amigos imaginários, carrinhos com caixas de sapato ou ainda soldadinhos de papelão, principalmente naqueles dias de chuva, que toda criança detesta, pois não era possível brincar na rua ou no quintal.
Mais tarde, já funcionário do banco HSBC, no setor de RH, os integrantes internos da minha mente na “máquina do lúdico” voltaram a operar... e dessa vez produzindo coisas diferentes das antigas criações que se limitavam a soldadinhos, carrinhos ou joguinhos de futebol de botão com recortes da revista Placar.
Esse departamento interno do meu ser, que intitulei de “máquina do lúdico” não resiste em todas as pessoas em sua fase de juventude ou mesmo na fase adulta. Ele é sufocado por inúmeras razões e circunstâncias. Mais tarde, de forma mais acadêmica, descobri que entre tantos nomes, essa forma lúdica de incrementar o aprendizado é chamada ou reconhecida de várias outras formas: fixadores de conteúdo, andragogia (Malcolm Knowles, na década de 1970) ou mesmo os canais visuais ou cinestésicos da programação Neurolinguistica.
Voltando aos primórdios da emancipação da minha “máquina do lúdico” no seu âmbito profissional, houve uma espécie de “inconfidência interna” (pois apesar do apelo interno da minha vontade, que insistia em brotar esse lado criativo no exercício profissional, haviam os cuidados da chamada “polícia do meu pensamento” que sempre recomendava fazer as coisas na sua forma convencional e aceitável, igual ao que quase todo mundo faz)

Quando conheci o Walter, percebi que ele também possuía esse departamento.
O departamento de “máquina do lúdico” do Walter era emancipado, assumido, desenvolvido e principalmente, já era reconhecido profissionalmente, conforme a narrativa do próprio em postagem anterior, quando ele usava bonecos em suas atuações com treinamentos de seguros de vida. Outro profissional que me ajudou a ver essa possibilidade como um coisa natural, concreta e perfeitamente possível, foi o Prof. Geraldo Ramalho de Medeiros, da consultoria Videre de Porto Alegre. Esse educador empresarial fazia muito sucesso no final dos anos 90, graças ao trabalho desenvolvido na caixa econômica. Assim, o HSBC pagou pra ver, enviando Walter, Rose Lazzarini e eu, para assisti-lo em um hotel de Porto Alegre nos idos de 1998. Entre todos os superlativos para descrevê-lo em seu trabalho vou usar somente o fantásticamente “criativo”. Foi o primeiro treinamento que assisti em minha vida sem o uso de nenhuma apostila.
Isso me encorajou e finalmente a “inconfidência interna” foi vencida pelos neurônios da minha liberdade. Assim, comecei a fazer minhas primeiras associações de aprendizado, quando desenvolvemos juntos, dentro do banco, nosso primeiro projeto chamado de “Sensibilização para Vendas” ( 1998 ).

* foto do acervo pessoal de Walter Brum Monteiro, mostra colaboradores do HSBC jogando o game "Gerente Detetive" o primeiro jogo que criei dentro do Treinamento "Habilidades para Vendas" que confeccionei para servir como padrão para a organização, no Centro de Treinamento HSBC no ano de 2000 e 2001.
Lembro que, tanto dentro do banco, como depois em outras organizações por onde passei, nem sempre tive sucesso com essa prática. Aprendi a duras custas, que esses recursos devem ser um complemento de algo que tem corpo e profundidade.
O lúdico deve ser um meio e não a finalidade principal. Ele não se sustenta sozinho e não faz milagres !
Um livro que me ajudou bastante na liberação da capacidade de criar pensando na forma como as pessoas trabalham e se comportam hoje nas organizações, foi "Ócio criativo" do autor Domenico de Masi. Ainda somos vítimas das filosofias do período Industrial !

Depois, com o passar dos anos, desenvolvi outras formas dentro do meu departamento de “máquina do lúdico”. Comecei a incrementar uma confecção mais apurada de games corporativos de diversos assuntos, formas e conteúdos, como também minhas apresentações em PowerPoint ( reconhecidas principalmente pela originalidade ) graças ao trabalho desenvolvido junto a outras consultorias do segmento. Abaixo, alguns exemplos recentes:


* Catálogo que desenvolvi para divulgar meu trabalho junto aos clientes da Prisma Consultoria em Saúde em agosto de 2011.

* Capa da palestra que desenvolvi e apliquei, sobre o tema "Universidade Corporativa" pela Prisma Consultoria em Dezembro 2011.

Capa do treinamento desenvolvido e posteriormente comercializado para uma consutoria do segmento, em São Paulo, no mês de Fevereiro de 2012.
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No ano de 2008, uma importante seguradora, me convidou para multiplicar e ensinar o "passo a passo" dessa minha "capacidade" de fazer apresentações de Power Point diferenciadas, que fazia um grande sucesso já naquele tempo. O convite foi mais ou menos assim:
- O que você acha de passar esse teu jeito de preparar apresentações no computador para o nosso departamento X.... ?
O grupo de colaboradores a ser preparado, em razão da atividade e do tipo de trabalho que desempenhavam, também elaboravam constantes apresentações em PowerPoint. Confesso que fiquei preocupado. Sei que multiplicar essa habilidade não é simples... não é uma ciência exata ! 
Depois de muito pensar, aceitei o convite e optei por uma oficina de trabalho. O objetivo era, primeiramente, saber como eles montavam suas apresentações e aos poucos, usando as próprias apresentações que eles criariam em sala, mostrar como eu mesmo faria... que tipos de programa eu usava... onde buscava fotos... como alterava ou incrementava essas fotos e onde buscava sugestões para isso e etc..
A primeira notícia ruim é que dividiram o curso em quatro noites com 3 horas, começando as atividades as 19 hs. No final do primeiro dia, eu já havia percebido que as pessoas buscavam uma fórmula pronta (o que não existe). Isso não era uma aula para aprender a operar os programas do Windows. A rigor, era uma oficina de trabalho ( as pessoas teriam que trabalhar para ter o peixe ) um investimento para desenvolver habilidades diferenciadas.
Porém, em uma época onde tudo se encontra no google, as pessoas não querem mais ir na biblioteca e copiar as coisas no papel... dá pra entender né ?

Um participante chegou a me dizer:
- Puxa, perdemos tempo montando nossas apresentações. Por que você já não passa logo o que é para fazer ?
Depois do curso, que evidentemente, não poderia ter sido bem avaliado, cheguei à conclusão que não deveria ter aceitado essa espécie de convite. Mais uma vivência na minha lapidação como profissional.
Há coisas que são únicas e particulares. É por isso que nem toda oficina de funilaria de automóveis tem o mesmo "martelinho de ouro"
Consultores não são divindades. Também precisam da participação, da entrega e da confiança daqueles que os procuram.
Guardadas as proporções, imaginei o Sr.Miyagi, da série Karate Kid, tentando ensinar tudo que sabia, ao Daniel Larusso, em quatro noites com períodos de 3 horas. Lembrei também que, em um dos filmes da série, o Daniel Larusso disse:
- Eu não vou pintar cercas e muito menos encerar seus carros... Quero aprender Karate !


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Como disse Paulo Coelho:
Um velho ditado mágico: quando o discípulo está pronto, o mestre aparece ! Pensando nisto, muitas pessoas passam a vida inteira se preparando para tal encontro. Quando cruzam com o mestre, se entregam completamente – por dias, meses, ou anos. Mas terminam descobrindo que o mestre não é o ser perfeito que imaginaram – mas um homem igual a todos, cuja única função é dividir aquilo que aprendeu. Ao ver-se diante de uma pessoa com seus defeitos próprios, o discípulo sente-se roubado. Vem o desespero e o desejo de abandonar a busca...

terça-feira, 22 de maio de 2012

Como conheci o Sr. Toshiro

por Walter Brum Monteiro.
Olá Amigos!
Segue uma reflexão sobre CRM, que na época foi um grande momento na minha carreira como treinador.

* Walter, junto com Rogério, prontos para voltar no tempo !
CRM - a "coqueluche" do final dos anos 90.

CRM ?  A sigla vem do inglês "Customer Relationship Management" que no português significa "Gerenciamento dos Relacionamentos com o Cliente" ou "Gerenciamento da Relação com o Cliente". Em meados dos anos 2000, nossa equipe de treinadores, vinculadas ao RH do HSBC BanK Brasil S/A, aproximadamente 15 colegas de todo o Brasil, ficou hospetada em um Hotel, no centro da cidade de Curitiba, para estudos técnicos e filosóficos, de uma grande "ferramenta" que naquele momento, era uma "coqueluche" corporativa, quase que mundial...  Uau !
Um bombardeio diário de teoria e prática, que se estendia também ao trabalho noturno, buscando uma honrada certificação individual ( o credenciamento como instrutor oficial do programa Enect ) que capacitaria o profissional na multiplicação desse conteúdo junto aos gerentes e gestores da rede de varejo ( agências). 
Como estava no início da "profissão" de treinador, a fome por educar era tanta, que nosso alimento não era outra coisa senão CRM. ( de manhã, à tarde, à noite e às vezes pela madrugada adentro ).

* camisa utilizada pelos facilitadores do programa Mais pelo Cliente ( enect )
acervo pessoal de Rogerio Sanches Revelles.

Conosco estavam representantes do Banco e da empresa que era a detentora do programa ( USA - Dallas, Texas ) especialmente para nossa certificação.

Só que para a prática de aprendizado dessa ferramenta em sala de aula, era necessário a locação de 20 computadores para a instalação do banco de dados e do famoso Software para as devidas simulações e pesquisas.
* simulações que envolviam o enquadramento de grupos de clientes adequados  de acordo com filtros ( idade, capacidade financeira, profissão, preferências... ) para o potencial oferecimento de serviços ou produtos financeiros. 
Estas instalações, em forma de disquetes,  eram cansativas e perduravam até ás 2 horas da manhã.

* foto de meu acervo pessoal, mostra os técnicos em atividades de instalação do banco de dados.

Aí a coisa ficou mais desafiadora , estudar sem parar para ser um dos escolhidos como treinador do projeto. Mas afinal como conheci o Sr. Toshiro ?
Em grandes empresas, que também implantaram o sistema de CRM, "não aconteceu nada”.

O palestrante Mario Persona, foi conhecer uma Transportadora do Rio Grande do Sul, que tinha um sistema fantástico de atendimento ao cliente.
Quando ele foi apresentado para as telefonistas, que eram aproximadamente uma meia dúzia, percebeu que todas se chamavam "Elisabete". 
Então, ele  perguntou para o dono da  transportadora se era uma coincidência todas as  telefonistas terem o mesmo nome.
O dono da transportadora respondeu  que  não era coincidência, e disse:
- Tivemos  uma  ideia de padronização, contratanto todas as telefonistas com  um mesmo nome, além disso, fizemos testes para a devida equivalência do timbre de vóz, para que assim, os  clientes  falassem  sempre  com a  mesma  "Elisabete".

Como elas tinham a tela do sistema na sua frente, sabiam exatamente a descrição dos contatos anteriores e o que havia sido tratado.
O  cliente dizia:
- Que ótimo.  Eu  liguei  para  você  ontem  Elisabete,  lembra ?
- Sim, eu lembro, dizia a Elisabete olhando para o sistema padronizado e também preenchido pelas outras atendentes.

O  problema era  que se  um cliente  se  apaixonasse pela  Elisabete, não imaginaria  que  levaria  um harém  para  casa. 
O CRM  não  vai  mudar  toda a  cultura  de uma  empresa. Porém, poderá influênciar nos mecanismos e processos. No modo como as coisas são feitas !
Ele  vai  refinar e incrementar relacionamentos  entre  funcionários e clientes.
O CRM  nos    previsibilidade. Nós  não  sabemos  o que  o  nosso cliente  vai  fazer  amanhã.
As ferramentas de CRM trazem dicas e orientações assertivas para apoiar os funcionários em suas abordagens de venda. Um cliente com saldo disponível e relativamente elevado em sua conta corrente, por exemplo, será indicado por meio de uma "oportunidade de contato" para receber ofertas em aplicações e Investimentos.
Então  o CRM  nos  oferece a capacidade de sermos mais "cirúrgicos" em relação a situações que  podem  acontecer.

Aquele cliente que é um comprador amável e educado hoje, amanhã poderá brigar com sua esposa e assim desencadear um turbilhão de alterações em sua rotina financeira.
A partir dessa situação, como será o relacionamento com este cliente?
Que produtos ele vai manter com a instituição financeira, que novos produtos ele precisará ? e quais os produtos ele poderá cancelar ? 

Então não são os produtos que mudam ! 
O que muda constantemente é a mecânica dos fatos na vida das pessoas, que passam por momentos diferentes... e fases diferentes em suas vidas.
Essa é a grande "sacada" da filosofia do CRM, que não se prende apenas a um Software e sim ao que está escrito no histórico de relacionamento de cada cliente. Isso é o que vai determinar o tipo de atendimento e as opções em produtos e serviços oferecidos por uma organização.

É sempre bom lembrar que uma das consequências positivas do bom uso desta ferramenta de relacionamento, além de produzir fidelização, é dar o atendimento baseado no valor e no momento de cada cliente.  Atendimento sob medida com tempo compatível, de acordo com a segmentação de mercado. Acertar na  mosca ! 
Walt Disney disse que você pode sonhar, projetar, construir o lugar mais maravilhoso do mundo, mas é preciso pessoas para tornar o sonho realidade. 

Bem,  vamos  conhecer  agora a  história  do  Toshiro.


CRM de mercearia. 

 
Toshiro queria aumentar as vendas da mercearia e deixar o freguês contente. Como o pessoal gostava de comprar fiado, encomendou umas cadernetas, carimbando nas capas a sigla: "CRM - Caderneta de Registro Mensal". Era nelas que controlava as contas dos fregueses.
Logo a CRM ficou popular no bairro.
"Anota aí na CRM dois quilos de tomate para a patroa", ordenava a Benedita.
- "Minha mãe mandou perguntar quanto vai pagar de CRM este mês", chegava o recado na boca da Silvinha.

Mas a caderneta não servia apenas para cobrar os fregueses. Era a sua "bola de cristal" Naquelas linhas o japonês enxergava muito mais do que o total a receber no final do mês.
Ele identificava ciclos de comportamento do freguês, suas preferências, a associação dos produtos adquiridos e muitas outras coisas. Até a data de aniversário e idade das crianças ele sabia, pelo número da velinha de aniversário comprada na véspera.


Só de olhar na caderneta, Toshiro sabia quando oferecer novidades para o freguês.
A data escolhida para pagar era a mesma em que a freguesa estava com a carteira mais cheia. E aberta a sugestões. Identificar preferências e associações de produtos também ajudava a vender. A freguesa levava sempre banana e aveia? Toshiro criava pacotes promocionais com um terceiro produto em promoção. Um vidro de mel ou uma lata de farinha láctea, para criar novos hábitos na família. E assim diminuir o estoque.

A freguesa comprava sempre tomate? Dá-lhe campanha promovendo o macarrão e o queijo ralado. Fazia tempo que não levava azeite? Era só lembrá-la de que o azeite sempre acaba na hora da salada. A última compra foi há muito tempo? O Toshiro ligava avisando que a laranja estava em promoção.
E o freguês ia lá buscar, só porque o Toshiro se preocupou em ligar.

Até o Pepe, do açougue ao lado, criou sua própria caderneta CRM para acompanhar as preferências da freguesia. Logo Toshiro e Pepe trocavam informações de suas CRMs, para ganho mútuo. E o Manoel da padaria acabou aderindo ao sistema. Seguido pelo Alcebíades do boteco. Cada um passou a ser um agente de uma pequena rede de troca de informações.

O Toshiro vendeu carvão e sal grosso para o doutor Januário? O Pepe era logo avisado e ia preparando a carne que o doutor gostava. O Manoel aumentava a receita do pão. E o Alcebíades colocava mais cerveja para gelar. Cada comerciante sabia prever a próxima compra, para fazer a próxima oferta e exceder a expectativa do freguês. Todos prosperavam. Os fregueses estavam contentes.

Isso até o filho do Toshiro voltar da capital. Da faculdade, com diploma e tudo, e virar consultor do pai, enquanto não encontrava emprego. Achou a caderneta antiquada.
Vendas, só à vista. Se o freguês quisesse parcelar, que fosse pelo cartão.
O açougue? A padaria? O boteco? Eram concorrentes.
Será que seu pai não percebeu que eles também vendiam caixas de fósforos?
Nada de dividir com a concorrência. Cada um que cuidasse de seu próprio negócio.
Ou a mercearia iria perder a freguesia.

E foi o que aconteceu ?
O que o filho logo interpretou como falta de investimento em propaganda. A solução foi vender a Kombi de entregas e comprar espaço no jornal e no rádio. Sobrou algum para um outdoor e uma tarde de palhaço com microfone na porta da mercearia.
Sem Kombi para entregar, o jeito era cada freguês carregar sua própria compra, ou comprar menos, para o braço não esticar na caminhada. 
Toshiro sentia saudades do modo antigo. Da amizade com os clientes, do conhecimento de seus hábitos. Do lucro !
Um dia uma propaganda no jornal chamou sua atenção. "CRM - Conheça os Hábitos de Seus Clientes". Parecia a sigla das cadernetas, só que era em inglês. "Customer Relationship Management". Será que poderia ajudar a mercearia?
O filho descartou logo a idéia. Aquilo era coisa para empresa grande !
Não servia para mercearia. Era complicado demais para Toshiro entender.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O ciclo da “balde furado”

por Rogério Sanches Revelles.
A venda consultiva continua sendo um caminho longo... E duradouro!
Vender não é apenas vontade e voluntariedade. Vender também não deve ser um processo tecnológico e impessoal, ocasionando reflexos pessoais. Quando fazia administração de empresas na Faculdade São Judas, li o livro de ficção 1984 de George Orwell, um escritor e jornalista inglês. Nesse livro, o autor mencionava os efeitos de uma vigilância constante nas palavras, atitudes e comportamentos, realizada pelo intitulado “grande irmão” através de uma “tele-tela” na vida pessoal dos integrantes de um partido.

* Uma das capas dessa consagrada publicação.

Na época, imaginei um futuro chato e controlado. Hoje essa realidade está cada vez mais próxima. Os clientes são abordados e atendidos por apelos chamativos da "tele-tela" (nossos computadores, aparelhos de TV, tablets ou telefones celulares) e mal conseguem se comunicar nas chamadas centrais de relacionamento.
Os conceitos da venda consultiva começam a ficar nublados em razão da velocidade de tudo em nossa volta. Conversar, olhar, ouvir e compreender começam a tornar-se artigos de luxo nesse mundo lógico de um capitalismo selvagem que insiste em sobreviver.
Vale lembrar uma passagem de minha carreira que demonstra os efeitos das filosofias imediatistas na política comercial das organizações.
Encontrei o Alencar próximo ao metro São Bento, sentado em um banco do calçadão, próximo ao mosteiro, envolvido e mergulhado em seu telefone celular.
Depois de uma breve saudação, ele finalmente saiu do “transe tecnológico” e me reconheceu. Guardou seu pequeno aparelho, e começamos a conversar. 
Alencar era gerente de vendas de uma importadora de cosméticos e perfumes. Conhecemo-nos há cerca de quatro anos quando ministrei um treinamento de vendas consultivas e relacionamento para sua equipe de vendedores, por solicitação da matriz que fica no Rio de Janeiro. 
Antes de desenhar o módulo desse programa, parti para o processo de levantamento de informações e necessidades. Um procedimento técnico que aprendi e adotei com muita seriedade em minha carreira.
Durante aquela entrevista, Alencar demonstrou particularidades muito marcantes em suas convicções: acreditava em resultados rápidos e mostrava-se preocupado com essa moda de venda consultiva.
Para ele, vendedores eficientes precisam gastar a sola dos sapatos e trazer resultados a qualquer custo.
- Temos que convencer os clientes que nosso produto é o melhor!
Foi assim que ele galgou posições em sua vida profissional.
Outro fato que me chamou bastante a atenção naquela oportunidade foi uma espécie “mal acabada” de troféu, bastante singular em sua mesa.

 Naquele momento percebi que teria um trabalho árduo e imediatamente compreendi o propósito e a preocupação da matriz da empresa em aplicar o conceito de vendas consultivas para a equipe de São Paulo onde o “turnover” era representativo.
O programa de treinamento ocorreu algumas semanas depois, e ao contrário do que eu pensava inicialmente, Alencar foi participativo e até demonstrou muito interesse nos conceitos que trabalhamos e praticamos em sala de aula. Envolveu toda a sua equipe com bastante entusiasmo e cobrou a participação de todos na adoção do processo.
Depois de algum tempo, percebi em meu processo de acompanhamento, que o discurso de mudança, adotado em sala de aula, era bem diferente do que continuava acontecendo no departamento de vendas.
Vendedores aborrecidos, clientes reclamando, vendas mal feitas e sem a devida continuidade no relacionamento. Todo processo de mudança não é instantâneo como acostumamos a vivenciar no mundo da tecnologia.
Constatei que ser um consultor de desenvolvimento não é ser um super herói e que a bíblia das vendas consultivas pode ser pregada eficientemente, mas nem sempre é assimilada depois que o culto acaba.
Situações como essa são mais comuns do que pensamos. Atualmente, tudo é rápido. Os canais de venda se multiplicaram na velocidade do aparato tecnológico. As empresas precisam faturar rapidamente, para que assim, possam custear a corrida da era da informação instantânea. Os clientes por sua vez, sofrem ao tentar discutir com mensagens gravadas, robotizadas e padronizadas das “centrais de relacionamento”
O “recall” parece estender seus tentáculos, não apenas para recuperar falhas de produção, mas também para recuperar falhas no relacionamento e no atendimento dos clientes.
A convocação desse recall humano seria mais ou menos assim:

segunda-feira, 7 de maio de 2012

A boa e velha “transparência“

por Rogério Sanches Revelles.
A grande maioria dos profissionais de treinamento e desenvolvimento já utilizou ou ainda utiliza, o recurso da transparência como apoio em suas apresentações. Ainda hoje, a transparência configura-se como uma opção barata e relativamente recomendável. Mesmo hoje, com recursos tecnológicos bem mais sofisticados, ainda podemos ser surpreendidos com apresentações nesse formato.
Para os mais novos, que não tiveram a oportunidade de conhecer esse recurso, a transparência era uma lâmina usada para imprimir slides de PowerPoint, textos do Word ou ainda gráficos do Excel e tinha como principal finalidade, apoiar e ilustrar didaticamente apresentações ou cursos.
Fabricada em uma espécie de plástico, relativamente consistente, em tamanho semelhante ao A4, eram vendidas em caixinhas fininhas, quase sempre importadas, com 20, 50 ou 100 unidades.
Depois de impressas, eram colocadas em um aparelho (como veremos logo abaixo) chamado de retroprojetor, que continha uma superfície horizontal feita de vidro, para que a imagem originada desse reflexo luminoso da transparência contra a luz, fosse refletida em um plano vertical (normalmente uma parede)
Comentarei algumas passagens, dessa antiga ferramenta que a cada ano que passa, começa a se tornar coisa do passado.
A primeira vez que tive contato com esse recurso foi na condição de participante de um curso da CIPA, pela empresa em que trabalhava no ano de 1982. Naquele tempo, quando víamos uma pessoa carregando aquela caixa de papelão “fininha” associávamos que tal pessoa só poderia ser o instrutor que trabalharia conosco naquele evento.
Mais tarde, já na condição de profissional de RH, também comecei a trabalhar minhas primeiras apresentações com a referida lâmina.
Lembro que um primeiro inconveniente, relativamente grande, era carregar o retroprojetor, principalmente quando precisávamos nos deslocar, mesmo que fosse de uma sala para outra.


Esse equipamento, de porte relativamente considerável, principalmente os mais antigos, quase sempre ficam em um canto de sala, ou guardados em algum armário, passando despercebido pelos profissionais de limpeza. A primeira conseqüência em manuseá-lo era sujar a roupa na altura da cintura.

* foto do acervo pessoal de Walter Brum Monteiro.
Eu em 1998, trabalhando com um retroprojetor.

* foto do acervo pessoal de walter Brum Monteiro,
onde ele aparece utilizando o retroprojetor.
Voltando ao assunto das transparências, lembro que antes de utilizar era preciso confeccioná-las. Isso exigia um pouco de paciência pois em algumas impressoras de jato de tinta, era necessário retirá-las com cuidado da bandeja, pois o contato das mãos em cima da tinta fresca poderia causar um borrão na lâmina.
Era um processo demorado e quase sempre ouvíamos as pessoas comentarem:
- nossa... Você ainda está ai imprimindo essas transparências?
Outro sonho dourado era imprimir colorido. Quase sempre, a única lâmina colorida a ser impressa era a primeira, como uma “capa” do assunto que discutiríamos em sala de aula.
Era muito caro e ainda é, imprimir todas as lâminas coloridas. Portanto, o apelo visual de uma apresentação com o recurso das transparências não era de se impressionar.
E quando a “lampadinha” do retroprojetor queimava? Era dor de cabeça na certa! Pedíamos licença ao público e lá íamos atrás de uma substituta no setor indicado. Quase sempre se corria o risco de alguém dizer:
- Ih, não sei não... Mas acho que não tem nenhuma de reserva aqui.
Outra coisa era armazenar. Principalmente aqueles cursos ou conteúdos que você acreditava que não utilizaria novamente.
Quando a caixinha de transparências ficava por um certo tempo no porta malas do carro, a surpresa na hora de utilizar era certa. As lâminas grudavam e quando tentávamos desgrudá-las a tinta passava para as lâminas seguintes e borrava tudo. Outro reflexo do calor é que elas envergavam e chegavam a se dobrar. O pior é que somente descobríamos tudo isso quando aquela situação acontecia... mais ou menos assim:
- Você trouxe as transparências?
- Sim, estão no carro.
- Nossa, estão horríveis o que aconteceu?
- Calma, eu trouxe o disquete para imprimir se for necessário...

Com o tempo, para evitar esse tipo de inconveniente, colocávamos uma folha de papel manteiga ou similar, entre as transparências. Porém, o volume de todas as folhas aumentava muito e a caixinha não fechava mais como antes.
Outro ponto que vale recordar é o ajuste da imagem em salas muito pequenas ou muito grandes. Precisávamos girar uma espécie de borboletinha para ajustar o foco da imagem, que quase sempre ficavam menores em baixo e maiores em cima.

* foto do acervo pessoal de Walter Brum Monteiro.

Normalmente quando isso acontecia, alguém sempre dizia lá do fundo da sala:
- Não estou conseguindo ver direito. Está desfocado!
Pior mesmo, era chegar depois do almoço, pronto para recomeçar o treinamento e perceber que o pessoal da limpeza misturou todas as lâminas que estavam estrategicamente colocadas em cima da mesa para fazer aquela revisão tão necessária.

Decepcionante  também era quando emprestavamos nossas queridas transparências para alguém e  quando eram devolvidas, estavam sujas por café ou água que foram derramados acidentalmente durante o curso que essa pessoa aplicou.  
E a referida pessoa ainda justificava:
- Desculpe, foi um acidente... na hora eu ainda passei um "paninho" para limpar o café e parece que ficou pior !
Sem contar aquela técnica de colocar um pedacinho de papel em cima de determinado trecho ou frase de um texto para ocultar informações que não deveriam ser reveladas imediatamente para o público... e então, batia aquele ventinho que movimentava o papel em cima da transparência, causado por alguém que abriu a porta repentinamente e involuntariamente revelou a resposta daquilo que você tinha trabalhado tanto para fazer as pessoas pensarem a respeito.
E quando somos nós que precisamos pedir as transparências de alguém e as lâminas não estão numeradas. Com isso, temos aquele terrível trabalho de colocar tudo em ordem e pressionados pelo tempo, não sabemos exatamente se está tudo na ordem de apresentação.
Uma outra situação que geralmente ocorria depois de muito tempo usando um mesmo material era alguém dizer:
- tal palavra não tem aquela acentuação.
E você é obrigado a revelar que aquilo não é um erro ortográfico e sim uma mancha causada pelo uso excessivo do material. (a lâmina tá velha mesmo !)
Outra lembrança angustiante é quando pensavamos que usariamos o recurso do “data show” com aquela apresentação maravilhosa, desenvolvida em PowerPoint durante semanas, e recebiamos uma triste notícia:
- O Sr. é o instrutor do curso ?
- Sim, em que posso ajudá-lo ?
- É que houve um imprevisto de última hora e a empresa que normalmente atende nossas solicitações para o aluguel de equipamentos não vai poder instalar o “data show”. Porém fique tranqüilo... Tenho umas transparências sobre o assunto lá no carro e vou buscar para você.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Nem ocupação, nem função... Educação corporativa é paixão !




Prefácio

Prezado leitor, esse blog é dedicado a todos os que amam as ocupações e atribuições voltadas para a educação corporativa, de forma autônoma ou com vínculo profissional, bem como aqueles que o fazem de forma voluntária. Ensinar ou facilitar o aprendizado é um dom divino, onde a evolução e o aprendizado ao longo dos anos requer paixão e entrega pessoal.

O nome RETROPROJETOR:
“Retro” remete ao passado, assim como a palavra projetor nos transporta para o futuro.
Ao mesmo tempo, retroprojetor, mimeografo, transparências e outros componentes, nos fazem pensar no que um dia foi à educação corporativa e para onde ela caminha com as variantes e inovações tecnológicas de hoje.
Nossa intenção é discutir o tema estabelecendo comparativos e fazendo projeções para a contínua especialização e capacitação de nossa classe.


Temos muito para dizer e ouvir !
- O que representava ser um "instrutor de treinamento" em épocas passadas e o que representa ser um facilitador, multiplicador ou mesmo palestrante nos dias de hoje?
- Quais as diferenças existentes entre os participantes dos cursos, seminários ou palestras dos anos 80 e 90 e os participantes da atualidade ?
- As pessoas mudaram sua forma de pensar e de aprender ?
- A educação à distância oferece facilidades e benefícios incontáveis. Porém, para determinados assuntos ou conteúdos, ela se mantém eficiente da mesma forma ?

O intercâmbio:
Queremos abrir espaço para a participação de leitores e convidados, visando a troca de experiências, registros fotográficos, materiais pertinentes, games corporativos, atividades lúdicas de aprendizado e fixação de conteúdos, ou ainda livros sobre o tema, relatos de acontecimentos interessantes ou projeções sobre o futuro dessa ocupação apaixonante de educador corporativo.
O que nos aguarda ?
- Vamos desaparecer no futuro ? O que se ganharia com isso ?
- E o mais preocupante: O que se perderia com isso ?


Quem sabe um dia, com essa onde crescente de boatos sobre as alterações do eixo do planeta, em dezembro de 2012, que ocasionaria uma pane em todo o nosso sistema tecnológico, ficarão, Walter e Rogério, em uma esquina qualquer, com um banner pendurado com os dizeres: Compro treinamento velho. ( pois o conhecimento e as habilidades adquiridas pelo exercício contínuo de uma paixão, com incomparável dedicação, não se perderão jamais ! )

*  (reprodução) obra original na galeria de Apolo Torres


Nada é por acaso... por mais que pareça !
por Rogério Sanches Revelles.


Primeiramente, obrigado DEUS, minha família, principalmente minha esposa e filha, e a todos aqueles que contribuíram na minha formação profissional em educação corporativa.
A todos os participantes de Cursos, palestras ou seminários que estiveram comigo
ao longo dos últimos quinze anos.

Formei-me em 1988, com licenciatura em História e Geografia pela UNINOVE de São Paulo. Naquela época, eu não tinha aspirações de exercer a profissão de educador por várias razões. Entre elas, a mais significativa... o pavor que me assolava sempre que precisava falar em público.

Era um temor do ridículo, uma sensação de insegurança que se iniciava tão logo eu tomava conhecimento que passaria por essa situação. Assim, os anos se passaram. Continuei minha carreira bancária que se iniciou no banco Itaú, depois no Bradesco e posteriormente no saudoso banco Bamerindus.
Em 1997, o Bamerindus começou a balançar ! 
Os boatos sobre a saúde financeira da instituição eram cada vez mais fortes. Até que em março de 1997 veio a notícia:
O HSBC (banco de capital britânico com forte atuação na Ásia e no Oriente) havia adquirido os ativos do banco verde e branco da família paranaense “Andrade Viera”.

No princípio, as alterações drásticas que esperávamos não aconteceram de forma tão imediata. Conheci alguns meses depois, no departamento de produtos massificados, (comercialização de capitalização, previdência privada, seguros PF e PJ entre outros) onde atuava na função de promotor de negócios junto às agências de varejo, um inglês de nome Marck Reynolds que assumiu a função diretiva da área. 
Tratava-se de uma pessoa simpática e com bastante disposição para ouvir e trocar informações sobre o mercado bancário nacional.
Na seqüência dos acontecimentos, iniciamos um contato profissional mais aproximado.

Na época, eu atendia as agências da Zona Sul, entre elas a unidade do Morumbi. Através do gerente titular dessa agência, o Sr. Celso Hecke, que me incentivou a conhecer e utilizar seu computador pessoal para fazer o jornal semanal da agência, comecei a me familiarizar com o programa do Windows, destinado para a montagem de apresentações, o PowerPoint.

Como meu trabalho era estimular os gerentes a comercializarem os produtos que citei acima, e a rotina desses gerentes era acelerada, o que não me permitia fazer as reuniões de esclarecimentos, estudos e incentivo comercial, que tanto me incomodavam na hora de falar em público, decidiu criar, em formato dos antigos disquetes (1.44 MB), apresentações animadas com todo o conteúdo didático dos produtos, suas abordagens de venda e prováveis respostas contra as objeções dos clientes.
Era um trabalho diferente do que habitualmente era usado pelos colegas da equipe. Os gerentes gostavam de acessar o conteúdo pela sua linguagem clara, objetiva e acompanhada por vários desenhos divertidos do chip-art do próprio PowerPoint.

Um dia, para minha surpresa, Mr. Marck Reynolds me abordou em um dos corredores da nossa central da Vila Leopoldina, em São Paulo e me disse, com um português arranhado:
- Gostei do trabalho que você vem desenvolvendo nas agências. Aquela sua idéia dos disquetes é muito boa!
Para mim foi uma surpresa tomar conhecimento que ele visitava as unidades e se interava do que fazíamos e da forma que fazíamos.
No final de 1997, as alterações que esperávamos ocorrer, tão logo o HSBC chegaram ao Brasil, começaram a acontecer.
Nosso departamento passou a chamar-se de Promoção de vendas.
Também tomamos conhecimento que seríamos responsáveis pela preparação corporativa e em alguns casos, comportamental, das equipes de varejo das agências do então HSBC Bamerindus.
Teríamos uma equipe de consultores, que continuariam a visitar as agências e um grupo específico para qualificação e formação profissional dos mesmos.
Foram feitas diversas entrevistas com toda a equipe do departamento.
Essas entrevistas tinham como objetivo o remanejamento de pessoas para as funções descritas acima.
Tão logo o processo foi concluído, Mr. Marck Reynolds começou a divulgar individualmente os resultados para todos os integrantes da equipe.

Quando finalmente fui convocado para receber a opinião de minha entrevista veio à notícia fulminante:
- Rogério, você tem perfil para trabalhar na área de treinamento. Gostei muito daquele trabalho que você desenvolveu nas agências. Lembra?
Vamos preparar vocês ! Não se preocupe...
O grupo de treinamento vai para Curitiba receber um conteúdo chamado de "Professional Selling Skils" que é um curso de vendas que posteriormente vocês aplicarão para os gerentes de toda a rede de agências.


Na hora, minha vontade foi dizer a ele:
- Marck, eu fiz aquele trabalho com os disquetes, justamente para não precisar falar em público!
Preferi o silêncio !
Não poderia e não deveria, por razões de auto-preservação, negar uma função de confiança, em um momento de mudança organizacional tão grande.
Assim, iniciei minha vida de educador corporativo.
Cheio de dúvidas, mas com uma certeza:
Eu nunca mais seria o mesmo !
Em treinamento e desenvolvimento passei os melhores anos de minha vida profissional.
Conheci pessoas fantásticas, entre elas, o amigo e irmão, Walter Brum Monteiro, que desenvolve em conjunto comigo, o trabalho nesse blog.